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domingo, 2 de novembro de 2008
HISTÓRIA DO DIA nº45 Ciúmes Reais ( VER MAIS EM www.historiadodia.pt)
Ciúmes Reais
António Torrado
escreveu
Cristina Malaquias
ilustrou
Era uma vez um rei muito ciumento. A rainha era mulher de grande beleza, que o rei queria ser o único homem a contemplar. Por isso mantinha-a fechada a sete chaves no palácio.
Mas a rainha, que não aturava esta prisão, terá descoberto as tais sete chaves e, muito secretamente, muito pezinhos de lã, veio até cá fora passear. Só para espairecer.
Só por um bocadinho.
Respirou o ar livre do parque real e foi para a margem de um riozinho pentear os cabelos. Um leve novelo soltou-se do pente, as águas do rio cobiçaram-no e levaram o novelinho loiro, rio abaixo.
Logo aconteceu que, mais adiante, estavam umas lavadeiras, na margem do rio, a lavar as camisas do rei.
O perfume dos cabelos da rainha comunicou-se às águas do rio e impregnou a roupa.
Depois de secas e engomadas, as camisas voltaram para o palácio. O rei vestiu uma e disse:
- Esta camisa cheira ao perfume dos cabelos da rainha. Como é possível?
Tinha, realmente, um nariz muito sensível este rei ciumento.
Como é possível? Como não é possível? A rainha não sabia explicar.
- Tu saíste, na minha ausência? - perguntou o rei, quase a zangar-se.
Que havia a rainha de responder? Contou a verdade, que bem simples era.
O rei barafustou muito e arranjou sete vezes sete chaves para fechar a rainha. Estava desesperado.
Mas a rainha lá descobriu as quarenta e nove chaves, se as minhas contas não erram, e foi, uma noite, dar um passeio pelo parque. Só para espairecer. Só um bocadinho.
Estava tão aliviada e contente que cantou, baixinho, uma canção a seu gosto. No dia seguinte, todos os passarinhos dos jardins reais assobiavam a mesma canção. O rei, ao abrir, de manhã, as janelas do quarto, ouviu a cantiguinha e assanhou-se:
- Tu saíste, na minha ausência? - perguntou, zangadíssimo.
A rainha respondeu que sim e com um ar tão doce e tão inocente que o rei nem achou palavras com que zangar-se. Ele amava-a muito e, lá no íntimo, achava que aqueles seus ciúmes eram uma doença. Ora as doenças tratam-se. Mas, nesse ponto, o rei ainda não estava preparado para tratar-se.
Pelo sim, pelo não, fechou a rainha com tantas chaves que perdi a conta. Assim já não podia sair do palácio. Estava mesmo e definitivamente prisioneira dos ciúmes do marido.
Não saía a rainha, mas saiu, sem ela nem ninguém dar por isso, a sombra da rainha.
Quando o rei viu que tinha fugido a sombra à rainha ficou muito aflito. Sentiu-se responsável pela perda. Sentiu-se um abominável carcereiro. Sentiu-se muito mal.
Foi ele à procura da sombra da fugitiva pelo meio do parque. Para ajudá-lo nas buscas, levou a seu lado a própria rainha.
Acabou por ser a sombra do rei a encontrar a sombra da rainha. As duas sombras entrelaçaram-se, diante dos olhos espantados do par real.
A própria sombra do rei, contrariando o silêncio das sombras, falou pela própria voz e pediu desculpa à sombra da rainha pelo cerco ciumento em que a apertara.
Perante tão estranhos factos, os reais esposos também se abraçaram e o rei logo ali pediu perdão à rainha e prometeu que nunca mais seria ciumento.
Se cumpriu ou não, não se sabe, mas costuma dizer-se que a palavra de rei é lei e nunca volta atrás...
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