terça-feira, 14 de outubro de 2008

HISTÓRIA DO DIA nº28 A Galinha Perdida (VER MAIS EM www.historiadodia.pt)


A Galinha Perdida

António Torrado
escreveu

Cristina Malaquias
ilustrou


Esta galinha tinha-se distraído e avançara para longe do pátio do quintal. Bica aqui, bica acolá, à cata do escaravelho cascudo ou da minhoca tenra, perdera-se das companheiras e ai que desceu a noite.
Por prudência, não se aventurou por descaminhos, ao calhar, apesar de a Lua prometer boa companhia.

- Mais depressa chegarei amanhã, à primeira luz do alvorecer - disse de si para si a galinha. - Ainda se tivesse pintos à minha espera, arriscava, mas como os últimos que tive já cantam de galo, não me ralo.

Procurou poleiro num ramo alto de uma árvore e, lá chegada, aninhou-se, nem que estivesse em casa.
Ela a fechar os olhos de sono, quando sentiu uma restolhada, na base do tronco. Por prudência, saltou para um ramo mais acima e esperou, de olhinho alerta.

Era a raposa, que farejava presa de apetite.
- Senhora galinha, onde está que não a enxergo?
- Estou onde estou e bem muito obrigada - respondeu a galinha, que não estava para conversas.
- O seu estado põe-me em cuidado - persistia a velhaca.

- Com esta aragem da noite, ainda apanha um resfriamento.
- Não se preocupe e vá à sua vida, senhora raposa.
- Preocupo-me e muito. Anda tanta humidade no ar, que não há melhor abrigo do que a capoeira. Quer que lhe indique o caminho?
A galinha nem respondeu.

Teimava a raposa:
- Além do mais há o perigo das cobras... Se fosse a si descia donde está.
A galinha nem tugiu.
- O que mais me aflige é a sua saúde. Aí em cima, parada ao frio, constipa-se, engripa-se, ganha febre... Não terá já?

- Sou capaz de ter - disse a galinha, só para dizer qualquer coisa.
- Então desça que eu lhe tiro a temperatura e ausculto e examino a garganta. Tenho estudos de medicina veterinária, não sabia?

- Desculpe, senhora raposa, mas eu só me consulto com o meu médico - disse a galinha, rindo-se por dentro.
- E quem é que a assiste, pode-se saber?
- É o Fiel, o cão da quinta, que eu mandei chamar e está aí não tarda.

A raposa alarmou-se:
- E ele virá?
- Já o oiço - disse a galinha.
- Sendo assim, vou-me embora eu, que não gosto de fazer concorrência a colegas de profissão.
E a raposa fugiu, de rabo entre as pernas.

Mais sossegada, a galinha escondeu a cabeça na asa e adormeceu. Nem sempre a raposa é a mais matreira...

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