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domingo, 14 de dezembro de 2008
HISTÓRIA DO DIA nº81 O Jornalista das Perguntas (VER MAIS EM www.historiadodia.pt)
O Jornalista das Perguntas
António Torrado
escreveu
Cristina Malaquias
ilustrou
Aquele jornalista que, por tudo e por nada, anda sempre a perguntar coisas teve a ideia de fazer um inquérito. Ia por aí, de mãos atrás das costas, e ao primeiro que lhe aparecesse perguntava:
- O que é que quis ser, quando era pequeno?
Depois somava, comparava e tirava percentagens.
Tantos queriam ser arquitectos, tantos queriam ser médicos, tantos queriam ser aviadores... Chama-se a isto uma estatística.
Para começar a tal estatística, perguntou primeiro a um rio:
- O que é que quis ser, quando era pequeno?
Era uma ribeiro pouco profundo, mas que sabia o que queria.
Respondeu:
- Quando era pequeno, só um fiozinho de água a escorrer da nascente, eu queria ser um grande rio, desses que são cruzados por vapores, visitados por paquetes, atravessados por pontes enormes. E ainda não desisti.
O jornalista registou e foi perguntar a mesma coisa a uma arvorezeca, que lhe dava pelo ombro.
Respondeu-lhe ela:
- Quando era pequena, só uma haste a romper da terra, eu queria ser uma grande árvore, dessas que dão sombra a um rancho inteiro de camponeses ou a um dilatado piquenique de excursionistas. E ainda não desisti.
O jornalista registou e foi perguntar a mesma coisa a uma casa, duas janelas e uma porta ou pouco mais.
Resposta dela:
- Quando eu era pequena, só um tijolo em cima de outro, eu queria ser um bairro com muitas ruas, onde coubessem muitas famílias, e que tivesse lojas, escola, correio, igreja. E ainda não desisti.
O jornalista, farto do inquérito, ficou-se por aqui. Entretanto, concluiu que muitas coisas (e talvez até pessoas!) quiseram ser, em pequenas, o que acabaram por não conseguir ser quando cresceram.
Ficaram-se a meio caminho das suas aspirações, dos seus sonhos, dos seus desejos. Coitadas delas, pensou o jornalista, encolhendo os ombros. E partiu, a toda a pressa, para outro inquérito.
Afinal, o jornalista estava a tirar conclusões precipitadas.
Se tivesse prosseguido na investigação, se tivesse tido mais paciência, saberia que o rio, ao fim de muita água, muito caminho, se transformou no grande rio da sua ambição.
Saberia que a arvorezeca, ao fim de muitos Invernos e muitas Primaveras, se transformou na imponente árvore da sua vontade.
Saberia que a casinha, ao fim de muitos anos, muitos trabalhos, junta com outras casas, formou o bairro do seu muito querer, das suas mais profundas esperanças.
Mas onde é que já ia o apressado jornalista quando isto tudo, finalmente, aconteceu?
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