quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

HISTÓRIA DO DIA nº75 Táxi (VER MAIS EM www.historiadodia.pt)


Táxi

António Torrado
escreveu

Cristina Malaquias
ilustrou


Deram ao cachorrinho o nome de "Táxi". Com tantos nomes disponíveis, logo foram escolher este! Mas ele não se importava.
- Táxi - chamavam.
E ele vinha, a dar ao rabo, sempre contente.
Mas eram os donos de má qualidade.

Gostavam de brincar com o cachorrinho, pois gostavam, mas quando o viram crescer e transformar-se num grande cão disseram:
- O Táxi só está a estorvar. Não podemos mantê-lo cá em casa.
Abandonaram-no. Há gente assim, sem coração.
O Táxi viu-se no meio de uma rua, com grande movimento, e desorientou-se.

Cheirou o ar e não deu com o caminho de casa. Nem valia a pena.
Supomos que o Táxi suspeitava que já não o queriam. Tinha de conformar-se. Ia ser um cão vadio, um cão de rua, um Táxi sem dono nem passageiro.
- Táxi - chamaram, perto.
Ele acorreu ao chamamento.

- Sai daqui, cão - enxotou-o uma senhora, que ia a apanhar um táxi.
- Táxi - chamaram, mais adiante.
O cão não se fez esperar, mas um senhor cheio de embrulhos, que ia a entrar num táxi, deu-lhe um pontapé.
Ele não percebia. Chamavam-no e logo o rejeitavam. Gente esquisita.

De desilusão em desilusão, foi ter a uma praça de táxis. Mero acaso. Um motorista, que estava à espera de freguês, partilhou com ele uma bucha com queijo.
- Como te chamas? - perguntou-lhe o motorista por perguntar.
Se ele pudesse responder... Fosse como fosse, talvez por afinidade, foi-se deixando ficar.

Os motoristas acharam graça à alegre pressa com que ele se levantava dos quartos traseiros quando alguém pedia um táxi.
- É cá dos nossos - diziam.
E adoptaram-no. Continuava a ser um táxi livre, sem dono, mas protegido por uma quantidade de amigos.
Afinal o nome Táxi sempre lhe valera para alguma coisa.

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