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quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
HISTÓRIA DO DIA nº74 Não tem Escolha (VER MAIS EM www.historiadodia.pt)
Não tem Escolha
António Torrado
escreveu
Cristina Malaquias
ilustrou
A ele não valia a pena perguntarem-lhe o que queria ser quando fosse grande. A resposta, quisesse ele ou não quisesse, só podia ser uma:
- Rei.
Tinha de ser. Pois se ele era príncipe, filho único de um senhor rei, que outra coisa, profissão ou destino podia caber nos seus projectos de futuro?
Pensando nisto, o príncipe, que não tinha vontade nenhuma de ocupar o trono dos seus antepassados, entristecia.
Uma vez, ouvira o jardineiro dos jardins reais queixar-se:
- O meu filho, que eu gostava tanto que fosse jardineiro como eu, diz que não tem vocação para a jardinagem.
Se ele dissesse o mesmo (isto é, o equivalente!), o que é que aconteceria?
Encheu-se de coragem e disse.
O rei, que era um homem compreensivo, respondeu-lhe:
- Meu filho, eu, quando tinha a tua idade, queria ser arquitecto, mas o teu avô deixou-me esta obrigação, que havia eu de fazer?
Por sinal que era um rei muito dado a construções.
Se o queriam ver feliz, mostrassem-lhe projectos de obras públicas, hospitais, escolas, novas cidades. O rei ficava encantado, dava opiniões, discutia com os arquitectos e os engenheiros como se fosse um deles.
- Se não tivesses de ser rei, o que é que gostavas de ser, quando fosses crescido? - perguntou o rei ao príncipe.
- Gostava de ser veterinário - respondeu o príncipe.
- Não vai ser fácil. Um rei veterinário não é muito comum. Há casos de reis-soldados, de reis-marinheiros, de reis-músicos, mas de reis-veterinários não tenho ideia. No entanto, vou pensar no assunto.
Era um bom pai e um bom rei.
Em segredo, começou a projectar um grande jardim zoológico. Desenhou tudo muito bem desenhado, como se fosse um arquitecto.
Quando tinha a obra toda projectada, estendeu os rolos dos projectos diante dos olhos do filho e disse-lhe:
- Ficam ao teu cuidado, para que tu construas o jardim, quando fores rei.
- Mas o pai podia mandar construir agora - disse o príncipe.
- Quero que fique à tua responsabilidade. Quando eu morrer, deixo-te o reino e estes projectos, para que te ocupes deles.
Assim sucedeu. O príncipe tornou-se rei. Não tinha outra alternativa.
Uma vez coroado, dedicou-se com entusiasmo aos trabalhos de governação. Mas com mais entusiasmo se dedicou a levantar o jardim zoológico, que, uma vez pronto, maravilhou o mundo.
Ao jardim deu o nome do senhor rei seu pai, que tinha querido ser arquitecto.
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