terça-feira, 25 de novembro de 2008

HISTÓRIA DO DIA nº68 Zé Desgraçado (VER MAIS EM www.historiadodia.pt)


Zé Desgraçado

António Torrado
escreveu

Cristina Malaquias
ilustrou


Era uma vez um homem muito pobre. Não tinha nada de seu e vagabundeava, todo esfarrapado e de longas barbas cinzentas, de terra em terra, vivendo de esmolas.
Chamavam-lhe Zé Desgraçado e, com o tempo, esse passou a ser o seu verdadeiro nome. Há também que dizer, à partida, que a história se passa em África.

Zé Desgraçado ia pelo meio do mato quando encontrou um antílope morto, trespassado por uma azagaia. Pensou: "Escapou-se, escondeu-se e morreu. E o caçador passo a ser eu".
Todo contente, começou a juntar lenha para fazer uma fogueira onde assar o antílope.

Nisto, um passarinho poisou-lhe no ombro e disse:
- Zé Desgraçado, não comas essa carne. Continua em frente, que o melhor está para vir.
Zé Desgraçado, embora contra-vontade, correspondeu ao conselho do passarinho.
Seguiu viagem, apertadinho de fome, mas seguiu.

Mais adiante, encontrou uma gazela, morta, também trespassada por uma azagaia.
O vagabundo pensou: "Escapou-se, escondeu-se e morreu. E o caçador passo a ser eu".
Mas, de novo, o passarinho lhe disse:
- Zé Desgraçado, não comas essa carne.

Continua em frente, que o melhor está para vir.
Muito contrariado, o mendigo avançou pelo meio do mato. Assim, chegou ao deserto. O passarinho, que não o largava, animou-o a continuar a viagem.
Sob o fogo do sol, cheio de sede e de fome, o Zé Desgraçado arrastou-se pela areia.

Dunas sobre dunas e mais dunas e dunas...
Até que chegou a um oásis. Como se estivesse à espera dele, um rancho de criados despojou-o dos farrapos, mergulhou-o numa tina de água perfumada e cobriu-o, depois, de ricas vestes. O vagabundo já não parecia o mesmo, embora continuasse com fome.

Os mesmos criados conduziram-no a uma grande tenda, onde estava uma bela senhora vestida de penas. Ela falou, a desejar-lhes as boas-vindas, e o Zé Desgraçado reconheceu a voz do pássaro que o conduzira.
Era viúva e única dona do oásis e da mina de ouro que nele havia.

Parece que estava tudo predestinado para que ali se realizasse um casamento, seguido de sumptuosa boda... Ao Zé Desgraçado convinha-lhe, tanto mais que continuava cheio de fome.
- Vais casar-te comigo - disse-lhe a senhora. - Mas imponho-te uma condição: nunca podes olhar para trás.
O vagabundo estava por tudo.

Desde que comesse qualquer coisinha...
Depois da cerimónia do casamento, estenderam as iguarias, sob a cúpula da tenda. Manjares deliciosos. Entre eles, um antílope e uma gazela.

Zé Desgraçado que ia a provar, de água na boca, um bocadinho de carne tostada, lembrou-se:
- No caminho para cá, encontrei um antílope e uma gazela, iguais a estes.
E apontou para trás. E olhou para trás.
Logo tudo se desvaneceu. Nem que fosse um sonho.

Zé Desgraçado voltou a encontrar-se no meio do mato, sozinho e cheio de fome.

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