GAMES, JOGOS, FOTOS, NATUREZA, LINKS, ANIMAIS PARA TODOS QUE FALAM PORTUGUÊS NO MUNDO.
sábado, 22 de novembro de 2008
HISTÓRIA DO DIA nº65 Uma História do Teotónio (VER MAIS EM www.historiadodia.pt)
Uma História do Teotónio
António Torrado
escreveu
Cristina Malaquias
ilustrou
O maior aventureiro da nossa rua é o senhor Teotónio. Correu mundo e gosta que saibam.
- Não ficou nenhum cantinho por conhecer - costuma ele gabar-se, quando fazemos roda à sua volta.
- Esteve na Índia? - pergunta um de nós.
- Sete vezes - responde ele.
- E na China?
- Outras tantas - responde o Teotónio.
- Conhece o Japão?
- Como os meus dedos.
- Então conte-nos uma aventura sua no Japão - pedimos.
- Hoje não, que não tenho paciência - responde-nos o senhor Teotónio, a fingir que se levanta e que se vai embora.
Nós insistimos.
Ele faz de conta que não quer contar e passamos assim que tempos, neste jogo. Até que levamos a nossa a melhor. Levamos sempre.
- Estou a recordar-me de um naufrágio por que passei, de uma vez que vinha do Japão - começa ele.
É uma história do Teotónio. Verdade ou mentira ele que responda.
Segundo o seu contar, vinha do Japão, como marujo, num navio mercante, quando se lembrou de que tinha prometido à madrinha um quimono. A senhora que fazia tanto gosto no roupão de seda bordada e ele que se esquecera da encomenda. Não podia voltar atrás o navio, mas podia ele.
Às escondidas, baixou um escaler e abandonou o barco.
Depois, remou, noite e dia, dia e noite, tudo por causa do quimono da madrinha.
Que dedicação de afilhado!
Mas levantou-se uma tempestade e o barquinho a remos, que ia a passar pelo meio de uns ilhéus, sacudido de um lado para o outro, foi embater nuns escolhos e desfez-se.
Por pouco que não se desfez com ele o senhor Teotónio.
Muito abalado, conseguiu nadar até à praia de um dos ilhéus, onde, exausto, se deixou adormecer.
Acordou, tempos depois, com uma esquisita sensação de aperto. Uns enormes olhos fitavam-no e ele estava nas mãos de um gigante.
O senhor Teotónio viera ter à ilha dos temíveis Carantões, uma ilha lendária que todos os marinheiros japoneses temem.
A carantonha que o segurava nos dedos era uma gigante ainda pequenina, uma menina gigante. Para ela, o senhor Teotónio equivalia a um boneco achado na praia.
Ele não podia dar parte fraca.
Fez-se de borracha e exibiu um risinho rígido de boneco japonês. Nessa qualidade, passou a confraternizar com os outros brinquedos da menina carantonha.
Mas aquilo não era vida. Ser despido e vestido pela carantonha, embalado e lavado, pendurado de pernas para o ar e atirado ao chão, sem cerimónia, não se tolerava.
Eram humilhações demais para um aventureiro.
Decidiu fugir. Num barco de brinquedo, quase do tamanho do escaler em que naufragara, fez-se ao mar, à hora da sesta da sua tutora e carcereira. De bagagem, levava um quimono, surripiado à menina.
- Ó Teotónio, mas este quimono está-me enorme!
- disse-lhe, tempo depois, a madrinha, que até era bastante avantajada de corpo. - Tu julgas que eu sou alguma gigante ou quê?
Não valia a pena explicar à madrinha os perigos e sacrifícios por que passara para lhe trazer aquele roupão de mangas larguíssimas. Talvez até ela o tomasse por mentiroso.
Nessa não caímos nós.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário