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sábado, 1 de novembro de 2008
HISTÓRIA DO DIA nº44 O Anjo Perdido ( VER MAIS EM www.historiadodia.pt)
O Anjo Perdido
António Torrado
escreveu
Cristina Malaquias
ilustrou
Perdeu-se um anjo na minha rua.
É uma rua pequena, sem nada de especial. Vai dar a uma rua mais larga, a que as pessoas da vila chamam Rua da República, só porque em todas as vilas que se prezam tem de haver uma Rua da República.
Quando eu digo onde moro, tenho de explicar que é uma ruazinha transversal à Rua da República, senão ninguém sabe.
Pois foi logo a esta ruazinha insignificante que veio ter um anjo. É evidente que está perdido. Olha para um lado e olha para o outro, sem saber para que lado seguir ou voar. Faz beicinho o anjo. Chora.
Eu, que estou à janela, desço logo à rua, em socorro do pequeno anjo. Devia ser ao contrário. Os anjos é que costumam ajudar as pessoas. Não faz muito sentido que seja uma pessoa a ajudar um anjo.
Aproximo-me dele e percebo porque chora. Além de estar perdido, não consegue voar. Tem uma das asas descaídas, coitadinho.
Chama pela mamã, em lágrimas. Fico confuso. Quem serão as mães dos anjos?
Mas tudo se esclarece. Na Rua da República, depois da esquina da minha rua, vai a passar a banda dos bombeiros, vestida de gala, a tocar uma marcha solene. É tarde de procissão na vila.
Este anjinho ia atrás do andor de S. Sebastião, crivado de setas, mas sentiu uma imperiosa necessidade de fazer chichi e foi levantar a túnica, junto a um tapume da minha rua. Indiferente ao caso particular deste anjo, a procissão prosseguiu, rua adiante.
Peguei no anjinho ao colo e lá o pus no bom caminho, junto com os outros, atrás do andor de S. Sebastião. Ele, que vinha a fungar, limpou as lágrimas e o nariz com as costas da mão, e nem me agradeceu. Pouco me importa. Saio desta história consolado. Salvei um anjo de se perder.
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