sexta-feira, 31 de outubro de 2008

HISTÓRIA DO DIA nº43 Ervilhas e Esmeraldas ( VER MAIS EM www.historiadodia.pt)


Ervilhas e Esmeraldas

António Torrado
escreveu

Cristina Malaquias
ilustrou


Andava um galo a depenicar num monte de nada, quando, escarva aqui, escarva ali, com as patas de ancinho, encontrou uma pedra preciosa. Era uma esmeralda.
- Antes fosse uma ervilha - comentou o galo. - De que me serve uma esmeralda, se não me enche o papo?

Andava um mineiro a explorar uma mina abandonada quando escarva aqui, escarva ali, com a pica, de mansinho, encontrou uma semente grelada. Era uma ervilha.
- Antes fosse uma esmeralda - comentou o mineiro.

- De que me serve uma ervilha, se não me enche o saco?
E agora? Vamos trocar as voltas e dar a ervilha ao galo e a esmeralda ao mineiro? Mas como? Como é que eu me saio desta?
O caso está imbricado.

Mais imbricado ainda porque o galo, que costumava engolir pedrinhas para ajudar a trituração da comedoria (quando havia!), decidiu:
- Para mim esta esmeralda é uma pedra como as outras. Que marche para o papo - e engoliu a pedra preciosa.

Por sua vez, o mineiro, desanimado com a sua pouca sorte, restituiu a semente à terra, ao sair da mina. Enfiou-a por um buraquinho e tapou-a. Parece que, depois, a regou.

Estava à rasquinha, não sei se me entendem...
Desculpem estes pormenores, mas, se não contar tudo tal e qual como aconteceu, a história não avança.
Avançou a germinação da ervilha, à entrada da mina. Choveu. Fez sol. O costume.

A plantinha, passado tempo, transformou-se numa formosa ervilheira.
O galo, que não desistira de depenicar por montes e vales, deu com ela e ficou extasiado.
- Que rico almoço! - exclamou.
E começou a debicar as vagens da formosa ervilheira.

Estava a meio da colheita, quando apareceu o mineiro, que tinha decidido voltar àquela mina, por descargo de consciência. Continuava em maré de azar.
Viu o galo e disse:
- Que rico almoço!
E agarrou-o pelo pescoço.

Depois, descobrindo a ervilheira, acrescentou:
- E vou guisá-lo com ervilhas.
Apavorado com a sentença, o pobre galo borrou-se todo.
- Sujaste-me as únicas calças que tenho, patife - indignou-se o mineiro, limpando-as. - Mas que é isto?

No meio dos dejectos, uma esmeralda.
Emocionado com a descoberta, o mineiro largou o galo, que aproveitou a deixa para se pôr a salvo.
Tudo voltara ao certo. O galo com ervilhas no papo. O mineiro com uma esmeralda no saco. Que alívio!
Assim fosse tudo, sempre.

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