terça-feira, 21 de outubro de 2008

HISTÓRIA DO DIA nº34 As Árvores Querem Mandar (VER MAIS EM www.historiadodia.pt)


As Árvores Querem Mandar

António Torrado
escreveu

Cristina Malaquias
ilustrou


No reino das árvores, as pessoas mandam muito. Dizem até algumas árvores que as pessoas mandam demais. Pois se, para que as árvores cresçam, há que escorá-las, para que elas se desenvolvam, há que podá-las, para que elas ganhem força, há que regá-las, o que é que resta às árvores, o que é que lhes cabe fazerem sozinhas?

- Fazemos os frutos - dizem as árvores mais experientes. - As pessoas ainda não conseguem fazer peras, maçãs, laranjas, romãs, cerejas, ginjas, ameixas, sem nós.
- Mas, depois, as pessoas tiram-nos o que fizemos - dizia um limoeiro novo.
- E para que é que tu precisas dos limões, meu tolo?

- replicava uma macieira com muitos anos de vida.
- Para enfeitar - respondia o limoeiro.
Aconteceu que, naquele ano, por altura da apanha, o reino das árvores não foi visitado por ninguém.

O dono do pomar estaria doente ou teria ido para fora, talvez desinteressado das árvores a que, noutros anos, dera toda a atenção.
Os frutos por colher pendiam dos ramos. Uns secaram. Outros caíram no chão, apodrecidos. Uma lástima.

Ainda se aquele pomar ficasse perto da estrada que leva à escola, talvez houvesse quem se tentasse e fizesse a colheita por sua conta... Mas, como ficava num sítio isolado e pouco acessível, ninguém deu pelo pomar ao abandono.
Vieram os pássaros. Vieram as lagartas.

Vieram os insectos. Foi uma razia.
Depois, o terreno do pomar não teve quem o lavrasse. Cresceram as silvas e as ervas daninhas. Muitas árvores ganharam moléstia. Deram, quando deram, uns frutos murchos e raquíticos. Sem préstimo.

Quando, tempos depois, o pomar abandonado foi visitado por pessoas, metia dó.
O pequeno limoeiro, que, entretanto, crescera, olhava em volta e só via árvores secas.
- Uma ruína - diziam as pessoas.

- Salvou-se o limoeiro, porque é árvore resistente, mas mesmo esse precisa de tratamento.
Acompanhado e tratado arribou. É, agora, um belo e perfumado limoeiro, que não se importa nada, mesmo nada, de dar os seus limões às pessoas que lhos pedem.

Sem comentários: