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domingo, 19 de outubro de 2008
HISTÓRIA DO DIA nº32 A Teia de Aranha (VER MAIS EM www.historiadodia.pt)
A Teia de Aranha
António Torrado
escreveu
Cristina Malaquias
ilustrou
Eu tive de ir ao sótão procurar uns jornais antigos.
Como toda a gente sabe, o sótão é o lugar da casa que menos é limpo. Nunca se convida as visitas para ir ao sótão. Nunca se utiliza o sótão, cheio de baús, malas e caixotes, para dar festas de aniversário.
Até talvez não fosse má ideia...
Eu a entrar no sótão, e a esbarrar com uma teia de aranha.
- Que falta de consideração - barafustou a aranha. - Uma teia que me deu tanto trabalho a fabricar!
- Foi sem querer. Desculpe - disse-lhe eu, um tanto encavacado.
- Quem estraga, arranja - gritou-me ela.
- Mas eu não sei tecer teias de aranha...
- Então, não tivesse rasgado. Quem estraga, arranja - insistiu ela.
Não tenho feito outra coisa.
Pedi instruções a um tecelão, a uma bordadeira e a uma senhora que trabalha em malhas. Cada uma ensinou-me o que sabia e eu, mal ou bem, com uma agulha muito fininha e um fio de nylon ainda mais fino tenho passado os dias no sótão a cosipar a teia da dona aranha.
Com tantas responsabilidades na minha vida, tantas histórias para contar, e sucede-me a mim uma destas. Ainda se a aranha se calasse, mas não se cala:
- Quem estraga, arranja.
E sempre a desfazer do meu trabalho:
- Que falta de jeito.
Que horror.
Mais dia, menos dia, também eu me enervo e mando a aranha contar histórias, em vez de mim. Sempre queria ver como é que dava conta do recado.
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