sexta-feira, 17 de outubro de 2008

HISTÓRIA DO DIA nº30 Trocas e Baldrocas (VER MAIS EM www.historiadodia.pt)


Trocas e Baldrocas

António Torrado
escreveu

Cristina Malaquias
ilustrou


O Joca perdeu o apara-lápis. Perder não perdeu. Trocou.
Depois de ter trocado o apara-lápis por uma borracha novinha, por estrear, é que achou que tinha perdido com a troca.
Quis desfazer o negócio junto do Rodrigo, que lhe tinha ficado com o apara-lápis jeitoso, em forma de bota de esquiador.

- Dá-me outra vez o meu apara e fica com a tua borracha - disse ele ao Rodrigo.
- Já não o tenho - respondeu o Rodrigo. - Troquei-o por este caderninho com bandeiras na capa. Quem tem agora o teu apara-lápis é a Lurdes.

O Joca foi ter com a Lurdes, que estava a saltar à corda:
- Queres esta borracha nova pelo apara-lápis que era do Rodrigo?
- Sete... oito... nove... dez... - respondeu-lhe a Lurdes, sem deixar de saltar à corda.
- O apara-lápis já foi meu e queria que voltasse a ser...

- Onze... doze... treze... catorze... quinze - respondeu-lhe a Lurdes, sem deixar de saltar.
- Trocas ou não trocas?
- Dezasseis... dezassete... dezoito... dezanove... vinte.
E parou. Quase sem fôlego, a Lurdes respondeu ao Joca:
- Troquei o apara-lápis por esta corda. Quem o tem agora é a Fátima.

O Joca foi ter com a Fátima.
- Já não tenho. Troquei-o por um lugar, na aula, ao lado da minha amiga Filomena.
Mas quem estava sentado ao lado da Filomena era o Rodrigo, lembrou-se o Joca. Foi outra vez ter com o Rodrigo.
- Ainda tens o apara-lápis? - perguntou-lhe.

- Ia trocá-lo com o Zeca por um carrinho.
- Mas eu dava-te outra vez a borracha - apressou-se a dizer o Joca.
Então o Joca, com o coração muito apertado, foi buscar ao fundo da algibeira das calças um carro novo, que trouxera de casa pela primeira vez.

- Queres este? - perguntou o Joca ao Rodrigo.
Ele examinou-o cuidadosamente, experimentou-o no lajedo do recreio e concordou. Voltara o apara-lápis às mãos do Joca. Que alívio!

Mas virando as costas ao Rodrigo, o Joca começou a ter saudades do seu carrinho, que corria tão bem pelo corredor fora. E se voltasse atrás com o negócio? Volto não volto...
Volta ele, não voltamos nós a contar, que estas histórias de trocas e baldrocas são muito cansativas.

Sem comentários: