sábado, 11 de outubro de 2008

HISTÓRIA DO DIA nº25 O Boi Manso (VER MAIS EM www.historiadodia.pt)


O Boi Manso

António Torrado
escreveu

Cristina Malaquias
ilustrou


O boi regressava do trabalho, ao entardecer. Vinha muito cansado. Por caminhos torcidos e pedregosos puxara, o dia todo, um carro de bois, que, bem vistas as coisas, devia antes chamar-se carro de boi, porque ele, sozinho, fazia as vezes de uma junta de bois, dos mais possantes.
Estava mesmo exausto.

A caminho do estábulo, já apaladava, na imaginação, a saborosa ceia de feno, que o aguardava na manjedoira. Merecida.
Entrou no estábulo e o que viu? O cão da quinta, deitado no fofo do feno.
- Tenha muito boas noites - disse o boi, que era muito manso e bem-educado.

- Podia fazer o favor de sair de cima da minha manjedoira?
- Não. Não - ladrou o cão.
O boi, cheio de paciência, insistiu:
- Estou com muita fome, mas prometo-lhe que, depois de comer, ainda lhe deixo feno suficiente para a sua cama.

Agora, agradeço-lhe que me desampare a manjedoira.
- Não. Não - ladrou o cão.
- Admito que esteja a incomodá-lo, mas será por pouco tempo. Com a fome que trago, garanto-lhe que como o feno num instante. Podia afastar-se por um bocadinho?
- Não. Não - ladrou o cão.

- Eu entenderia a sua má disposição se o soubesse apreciador de feno. Mas se para si não serve, senão como cama, porque me proíbe de comer? Ou quer provar também do meu jantar?
- Não. Não - ladrou o cão.
Era malhar em ferro frio.

O cão não saía da sua, não se convencia com boas palavras. Que outros argumentos podia o boi utilizar?
Vamos lá ver. Só há duas saídas para esta história.
Numa, o boi manso desiste da ceia e passa a noite roído de fome.

No dia seguinte, voltará a trabalhar, em estado de fraqueza e tão debilitado que não conseguirá puxar o carro, como o dono lhe exige. Um boi sem préstimo é um boi condenado ao matadouro. Um triste fim, portanto.

Noutra hipótese, o boi manso lembra-se de que tem em comum com os bois bravos os chifres pontiagudos, que servem de defesa e de ataque. Uma marrada de boi é um caso sério.
Qual dos dois fins vamos escolher?
Tu é que decides. Tu é que mandas.

Já decidiste?
Pois foi assim mesmo, tal como determinaste. Uma resolução muito acertada.
Contar mais, para quê? O que se passou dentro do estábulo nem se descreve. Tudo muito rápido.
Está, agora, um cão a ganir às estrelas:
- Caim! Caim! Boi ruim!

Caim! Caim!
Porque será?

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